Falar sobre cabelo cacheado ou crespo não se trata apenas de estética, afinal, usar o cabelo natural com curvatura é um ato de resistência ao padrão de beleza que vem sendo cultivado há centenas de anos na nossa sociedade. Hoje, vamos falar sobre a importância dessa discussão na atualidade. Vamos lá!
Primeiro de tudo, o que é representatividade?
A representatividade é o ato de ser ou se sentir representado dentro da sociedade, baseado em referências de pessoas semelhantes apresentadas pela mídia e fazendo o papel inspiracional em todas as esferas, tanto social, quanto profissional ou pessoal.
Porque é importante falar sobre cabelo cacheado e crespo?
Dentro do contexto de representatividade, porque então é tão importante falar sobre o cabelo cacheado e crespo?
Pertencimento
Como vimos anteriormente, se sentir representado é se sentir parte de uma coisa, pertencente a um grupo ou da sociedade em geral. Quando falamos do sentimento de pertencimento no âmbito estético, como no caso do cabelo cacheado e crespo, se trata da importância de um indivíduo com esse tipo de estrutura capilar se sentir parte da sociedade ativa. Ou seja, essa pessoa precisa se sentir representada por similares na televisão, nas capas de revista, nas embalagens de produtos, nos vídeos na internet, neste caso em especial por similares que, assim como ela, tenham cabelo cacheado ou crespo. Dessa maneira é possível disseminar a normalidade desse tipo de cabelo. Isso deve acontecer de maneira que a pessoa se sinta parte da sociedade porque recebe conteúdo das grandes mídias mostrando que, assim como ela, milhares de outras pessoas são como ela e que não mais ela precisa se sentir à margem pois não possui fios lisos e que crescem “para baixo” como manda o padrão eurocentrista estético da sociedade. Essa pessoa não precisa mais alisar o cabelo para pertencer a sua comunidade, isso porque ela já faz parte dela, pois o cabelo cacheado e crespo é um cabelo como qualquer outro, mas que ainda precisa ser normalizado para a massa, mesmo com todos os avanços que tivemos até hoje nesse sentido.
Referências
Se pertencer é se sentir parte de um grupo, é preciso que dentro desse grupo existam referências de pessoas como você, não é mesmo!? Nesse momento é importante destacar que a mídia deve representar essas figuras tal qual representam as pessoas de cabelo liso, e não a margem. Por exemplo, essas referências seriam pessoas de cabelo cacheado ou crespo em um local de poder e reconhecimento, referência de beleza, de estética, de sucesso. Essas figuras precisam ser o porta voz de milhares de outras pessoas como elas, que possam inspirá-las.
Recuperação da autoestima
Assim que uma pessoa se sente parte da sociedade, que ela vê referências que reforçam sua beleza estética, sua capacidade de fazer e alcançar tudo aquilo que deseja, ela se sente forte, representada, capaz, bela. Quando ela vê outras pessoas de cabelo cacheado ou crespo fazendo tudo aquilo que ela sempre quis, amando o próprio cabelo, cuidando dele, ela quer fazer tudo isso também e sente motivação o suficiente para fazer de fato. A representatividade devolve a autoestima perdida ao longos dos anos em que os cabelos cacheados e crespos eram preteridos em relação ao padrão do cabelo liso imposto pela sociedade. As pessoas que passaram por esse processo sabem que os seus cabelos são tão lindos quanto os cabelos lisos e elas não precisam mais se encaixar, pois já fazem parte.
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Empoderamento
Quando a pessoa passa a amar a sua figura, o seu cabelo naturalmente cacheado ou crespo, ela defende tudo aquilo que conquistou no processo de aceitação e recuperação da autoestima. Ela sabe da sua beleza e ela acredita no próprio potencial. Além disso, ela empodera outras pessoas, porque a sua força contagia e inspira terceiros também. Ela não precisa mais que alguém diga que o seu cabelo é bonito, porque nesse ponto ela já sabe, já ama e já defende o seu direito em usar o cabelo dela da maneira que quiser.
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Conscientização da ancestralidade
Um ponto muito importante desse processo é o reencontro com a ancestralidade, buscando contato com a sua história, com as suas raízes, procurando saber de onde é que vem aquele cabelo cacheado ou crespo e tendo muito amor e orgulho dele. Em especial no caso das mulheres negras, que constroem um elo de força e luta com o seu passado, trazendo-o para o presente e conscientizando outras pessoas como ela ao seu redor.
Liberdade
Há sensação mais inspiradora do que a liberdade? A liberdade para ser quem você é. Sem medo de não ser aceita(o), sem vergonha do seu cabelo. A liberdade de sair por aí exibindo os seus fios naturais, afinal, não há problema nenhum com eles, eles nasceram com você, são o seu direito, sua naturalidade, fazem parte de quem você é. Não há valor para a liberdade, e poder usar o cabelo cacheado ou crespo sem receio pelo que a sociedade vai dizer não tem preço.
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Diversidade
Mostrar o cabelo cacheado, o cabelo crespo, dizer que ele é tão comum ou até mais comum do que o cabelo liso natural em terras brasileiras. Exibir todos os tipos de cabelo, porque todos eles fazem parte da sociedade multicultural. Insistir na ideia de mostrar que as pessoas não são todas iguais, que existe gente de todo jeito e que todas essas pessoas devem ser tratadas de maneira igual, com a mesma representatividade e as mesmas oportunidades. Diversidade é mostrar que não existe apenas um tipo estético de pessoa no mundo e, principalmente, que não existe um padrão a ser seguido, cada tipo de cabelo ou característica física é especial a sua maneira dentre tantos tipos de pessoas diferentes, todas com a sua própria beleza.
Apenas falando, debatendo e mostrando o cabelo cacheado e crespo por aí é que faremos possível acontecer na nossa sociedade tudo isso que discutimos nesse texto. Por isso, vamos juntas(os)!? Vai ter cabelo cacheado e crespo, sim!